Monday, August 6, 2007

Wakanyeza! Mendota Mdewakanton Dakota


A história de luta pela preservação da língua e da cultura Dakota travada pela comunidade Mdewakanton Dakota de Mendota, em Minnesota, Estados Unidos, merece ser contada. Os índios Sioux se dividem basicamente em três subgrupos linguísticos - Dakota, Nakota e Lakota – e em sete nações: Mdewakanton, Wahpeton, Wahpekute, Sisseton, Ihanktowana, Yankton e Teton. As quatro primeiras nações fazem parte do grupo linguístico Dakota.
Há documentos que permitem provar que o grupo Mdewakanton de Mendota já havia se estabelecido nas margens do rio Minnesota, na região hoje conhecida por vila de Mendota nos anos de 1700. Os comerciantes de pele franco-canadenses migraram para a região de Mendota, e estabeleceram uma relação amistosa com os Dakota até o início de 1800. Vários destes comerciantes se casaram com mulheres Dakota. Com a criação das reservas indígenas, tudo mudou. O terrível inverno de 1861, aliado ao atraso na entrega de provisões por parte do governo, causou a revolta dos Dakota em 1862, uma guerra que durou seis semanas. Como consequência, 392 homens Dakota foram presos para, posteriormente, serem executados. Com a intervenção do então presidente Lincoln, somente 38 dos 392 presos foram de fato executados por enforcamento na cidade de Mankato, dia 26 de dezembro de 1862.

Um fato que deixou marcas profundas na comunidade indígena local foi o chamado “campo de internação” na ilha Pike, área conhecida hoje como parque do Forte Snelling. A ilha Pike localiza-se exatamente na confluência dos rios Minnesota e Mississippi, local sagrado para os anciões Dakota, uma vez que tal confluência de águas representa, para eles, “o centro do Universo”. 1600 mulheres, crianças e anciões Dakota foram detidos e mantidos prisioneiros de 1862 até 1863, e mais de 300 morreram de sarampo, de fome ou frio.

A população de Minnesota, apavorada, exigiu que os Dakota que sobreviveram ao enforcamento e ao campo de internação fossem expulsos do estado. Vários Dakota foram, então, levados de barco para Crow Creek, na Dakota do Sul. Alguns acabaram mudando de lá para a Reserva Santee, no estado de Nebraska. Alguns anos depois, algumas famílias Dakota decidiram voltar para Minnesota, juntando-se aos familiares ou àqueles que haviam decidido ficar em Mendota. Estima-se que havia 75 famílias residindo em Mendota no final da década de 1860.
Em 1887, o ato de demarcação de terras indígenas conhecido por “Dawes Act” transformou por completo as comunidades locais, na medida em que trouxe o conceito de propriedade privada para os Dakota. O governo dividiu as terras em pequenos lotes para a população indígena “viver do plantio”. Estima-se que 90.000 índios acabaram ficando sem terra alguma durante os anos seguintes, já que várias famílias não tinham como manter a produção, sendo obrigadas a vender as terras quase de graça. Juntamente com a forçada sedentarização, foi implantado o processo civilizatório com a proibição da utilização da língua Dakota e da realização de cerimônias sagradas. Tal proibição só foi oficialmente revogada em 1978, quando o congresso norte-americano aprova lei que garante a liberdade para prática de cerimônias nativas em território nacional.

Os 250 atuais membros da Comunidade Dakota Mdewakanton de Mendota, embora descendentes dos Dakota, ainda aguardam reconhecimento oficial do governo norte-americano para obtenção do status de “índio”, calculado através da porcentagem de sangue indígena.

"Indivíduos que não pertencem a tribos reconhecidas pelo governo federal podem se tornar elegíveis para receberem benefícios sociais como índios através do sistema de reservas ao comprovarem ao BIA (Bureau of Indian Affairs) que eles têm cinqüenta por cento ou mais de sangue indígena. Modificações propostas pelo BIA nas regras para o reconhecimento indígena através da porcentagem de sangue indígena estão sendo vistas por muitos índios americanos como uma estratégia do governo federal para reduzir suas obrigações para com as populações indígenas (Rocha, 2000). Além disso, atualmente, poucas sociedades indígenas constituem comunidades culturais homogêneas. Esta questão é muito evidente no caso de (re)emergência étnica entre populações camponesas nas áreas mais densamente povoadas do Brasil. Muitas comunidades são pluriétnicas e freqüentemente abrangem pessoas com identidades sociais híbridas, conseqüências de políticas indigenistas. Enquanto surgem processos de revitalização cultural e emergência étnica, as mesmas populações estão sendo englobadas pelas sociedades nacionais, criando situações cada vez mais complexas." (In: Baines, Stephen G. “Organizações indígenas e legislações indigenistas no Brasil, na Austrália e no Canadá”. Disponível em: http://br.monografias.com/trabalhos/legislacoes-indigenistas-brasil-australia-canada/legislacoes-indigenistas-brasil-australia-canada.shtml. Acesso em 6 de agosto. 2007.)

A comunidade vem oferecendo aulas de língua e cultura Dakota nos últimos dez anos, gratuitamente, como uma tentativa de evitar a completa extinção da língua. Dados do censo de 2001 atestaram somente 28 falantes fluentes de Dakota no estado de Minnesota, quase todos na faixa dos 60 anos. Além da luta pela preservação da língua e da cultura Dakota, a comunidade pretende abrir uma escola charter, um tipo de escola pública não administrada por um distrito escolar. Se o pedido for aprovado pelo Departamento de Educação de Minnesota, a escola atenderá alunos nos primeiro cinco anos de educação escolar (o chamado “K-5”) e incluirá no currículo questões da tradição cultural indígena norte-americana e terá o nome de Wakanyeza Charter School. Wakanyeza significa “pequeninos sagrados”, um nome doce e sugestivo para um projeto que aposta nas gerações futuras...
(Blue Crystal Eagle)